Surgimento da Vida Orgânica: No Princípio #Gênesis 3º Dia


E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi.  E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi.  E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.  E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro. (Gênesis, 1: 10 a 13)


E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi.

A expressão ajuntem-se as águas nos mostra que após a separação há novamente um ajuntamento. Esta passa a ser a mecânica cósmica, o respiro do Universo, expansão e contração…

A matéria fluídica - águas debaixo dos céus - vai se condensando e formando a porção seca, a terra propriamente dita. Tudo sob as ordens do Pai e a orientação dos Espíritos superiores. E assim foi, e podemos dizer que assim é até hoje no sentido de que toda proposta positiva de criação e atuação do Bem vem do alto, nós somos meros instrumentos da Vontade Soberana do Criador e de Seus prepostos espirituais para que o equilíbrio do Universo seja restabelecido.

Todo o Cosmos, o físico e o espiritual, o que conhecemos, o que julgamos conhecer, e o que não temos a mínima noção, vive imerso numa Lei Única, esta Lei em última instância é Amor.

É importante conhecermos todo este processo de criação pois daí podemos depreender consequências morais de largo alcance. O Bem, que é fruto do amor dinamizado, é expressão que verte do Criador para nós, é, como se pudéssemos dizer, o alimento essencial do Espírito. Daí a necessidade, mesmo que inconsciente, de o buscarmos sempre, de termos a intuição de que o devemos praticar. A ética é o Bem segundo o nosso alcance espiritual, à medida que evoluímos ela evolui. Só através de sua prática nos ajustaremos a Deus vivendo em harmonia. Não é por outro motivo que sentimos que somos mais felizes doando do que recebendo, e que só há saúde e paz se a este contexto superior nos adequarmos.

E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom.

Há matéria e matéria, matérias em várias dimensões. A ciência moderna comprova que há o elemento material tão quintessenciado que para nós é como se não existisse.1

O redator bíblico por vias intuitivas e espirituais captou a informação de que parte da matéria espiritual se condensou formando a terra, ou o que conhecemos como os continentes; outra parte menos condensada formou os mares, os rios, os lagos, mostrando-nos que mesmo em dimensões parecidas há diversidades de estados em que a Criação do Pai se apresenta.

Tudo tinha um propósito, mesmo após a separação da Unidade inicial, a presença do Criador se faz em todo o Universo gerenciando através de sua Lei, fazendo com que tudo se adapte à Nova Ordem com objetivos superiores de evolução. É o plano de Qualidade Total de Deus que os iniciados hebreus perceberam e grafaram: e viu Deus que era bom.

Esta expressão define a presença de Deus em todas as fases da vida, é o acompanhamento do Criador em relação à Sua criação. Dentro de nossa ótica acanhada [não esqueçamos que quem escreveu isto foi o redator do Gênesis] é como se houvesse uma avaliação por parte Dele.

Tudo vindo de Deus é bom. Mesmo que não compreendamos a finalidade tudo tem a sua razão de ser dentro da Contabilidade da Vida. Às vezes não compreendemos as aparentes derrotas, as dores, as separações, e tudo o que nos traz sofrimentos. Se hoje vivêssemos este início de formação planetária acharíamos que tudo era um caos, que ali haveria ausência de Deus, entretanto, nada disso é realidade. Deus está presente em toda Criação. Mesmo se existisse o inferno como pregam algumas religiões, ali também haveria a presença de Deus. Aliás a doutrina espírita nos ensina que nas regiões de maior treva do Mundo Espiritual tem a presença constante de Espíritos de elevada condição evolutiva trabalhando em nome da Luz.

Assim, não nos aquietemos em excesso se o momento atual é desfavorável aos nossos desígnios, há a Presença Divina em nossa vida constantemente, e se viu Deus que era bom, que assim se desse, é porque esta é a melhor forma de acontecer para a nossa recomposição íntima.


E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi.

Vamos notar que este terceiro dia é um dia de reconstrução. Passam-se bilhões de anos, a crosta terrestre se esfria, os vapores de água formam os mares, surge na dinâmica universal a condição de vida. E existindo o material orgânico aparecem as plantas, os vegetais.

Neste versículo 11 temos uma determinação de Deus para que a terra produza árvores que produzam fruto sempre.

André Chouraqui traduz este verso da seguinte forma:

Elohîms diz: "A terra arrelvará de relva, ervas semeando semente, árvore-fruto produzindo fruto por sua espécie, cuja semente traz em si sobre a terra." 2

Vejamos aqui que o que as versões atuais definiram por "árvores frutíferas", o tradutor francês traduziu como "árvores-frutos".

Segundo a tradição rabínica há uma diferença entre "árvore-fruto" e árvore que dá fruto. Conforme esta tradição, está aqui a primeira desobediência a Deus por parte da terra, pois a terra só sabe produzir árvores, e árvores que nem sempre são frutíferas e entre as que produzem frutos nem todas produzem bons frutos.

A Vontade do Criador é que a árvore seja "árvore-fruto", ou seja, árvore que seja fruto inteira, por todo tempo.

Talvez esteja aqui a razão de Jesus ter repreendido a figueira estéril; na verdade ele não está condenando a figueira, mas a desobediência de não ser "árvore-fruto".

A partir desta lição temos que, principalmente nós os cristãos - pois Jesus ampliou de forma prática todos estes ensinamentos -, o dever de estar atentos, produzindo bom fruto sempre. Para o seguidor do Cristo não há tempo de fruto, ou tempo de produção, pois sempre é tempo de produzi-los. Este deve ser o nosso compromisso.

Há outro ponto a ser considerado.

Esta "árvore-fruto" traz em si a semente para novas germinações.

Nossas atitudes têm de ser de tal modo produtivas, que se ampliem cada vez mais. Não podemos fechar o círculo produtivo; tudo o que criamos tem um ciclo de crescimento e temos que ter a humildade de saber que esta criação vai se ampliar, adquirir vida própria, vai caminhar por si. É preciso agirmos criando dentro de uma linha espiralada projetando para o infinito.

Aqui cabe o seguinte comentário: quando criamos no sentido produtivo da Vida esta criação se amplia de tal modo que nos traz a alegria plena; porém quando nossos frutos não são bons, estes serão a seu tempo eliminados, porém até que isso aconteça, de acordo com a força de intensidade da criação, ou seja, até que a Vida reabsorva esta criação num sentido positivo, temos que sofrer a consequência desta criação negativa e desobediente de acordo com os princípios Universais. Está neste processo a gênese da dor e do sofrimento.

Concluindo, temos, "árvore-fruto" que traz em si sementes que irão perpetuar a criação num processo de alimentação incessante.

Jesus se diz a "videira verdadeira" (João, 15: 1); videira que produz o fruto da espiritualidade plena (vinho); e confirma com maestria os textos originais da Torah:

Nisto é glorificado meu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos

Reflitamos sobre nossas criações, é importante que o que criamos dê margem para realizações ainda maiores no campo do espírito. Se trabalhamos com a palavra, seja escrita ou oral, se através de artigos, livros ou palestras, que esse trabalho seja não só o de informar,mas também de despertar nas pessoas a possibilidade de sua transformação. Este é o fruto por excelência, o fruto com semente em si, o que mais adiante vai gerar outros frutos com mais sementes que se projetam numa proposta educacional incessante. Esta é a proposta da vida, a produção com amor.

Só o amor se lança ao infinito. O amor da Gênese Universal criou o imortal e sua produção é sempre contínua…

Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também

E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.

Todo processo evolutivo, apesar da diversidade, tem um modelo único regido pela Lei de Unidade.

Deus Cria, entretanto os Espíritos têm de operar promovendo o seu crescimento e a melhoria do ambiente que o envolve. Deus é transcendente e devemos exaltar a sua grandeza sempre, todavia o Espírito tem responsabilidade e precisa assumi-la neste processo de construção de harmonia plena.

Assim, a terra representando a individualidade tem de produzir para estar ajustada à Vontade Soberana. Ela produz erva; árvores, frutos, sementes que por sua vez propiciarão a oportunidade de novas árvores, frutos, sementes…

É a fixação através do mecanismo de continuidade, de repetição, de perseverança para a consumação do objetivo maior.

É preciso que compreendamos que o Criador, Pai de Misericórdia, não dá nada pronto, no máximo fornece-nos uma semente que temos que cultivar e transformar na realização desejada.

Mesmo a semente ainda não é o início, entretanto, o princípio de uma nova oportunidade. Na semente temos valores já conquistados anteriormente que estão em potencial precisando de serem trabalhados pelo dinamismo essencial. Nada no Universo morre, em tudo há vida e transformação, temos aí a prova da reencarnação, da imortalidade da alma, da vida futura… Parafraseando Jesus podemos dizer, se assim se dá com a semente, por que não se dará com vós, homens de pouca fé…???



1 Cf. (KARDEC, 1980), questão 22

2 (CHOURAQUI, 1995), pág. 40

3 João, 15: 8

4 João, 5: 17

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