Criação dos Céus e da Terra: No Princípio #Gênesis
Gênesis, 1:
1-2
No
princípio criou Deus os céus e a terra. 2 E a terra era
sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o
Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
O
Evangelho tanto quanto o Antigo Testamento devem ser estudados em seu
aspecto reeducacional. É bom lembrarmos que a evangelização é
pessoal, não se evangeliza a massa; a massa é o nosso instrumento
de crescimento e a oportunidade de lançarmos a semente do Evangelho.
Quando
estudamos evolução devemos levar em consideração que a evolução
que deve ser estudada é a que promove o progresso moral do Ser, esta
é a proposta de Jesus.
Para
que o Espírito evolua, ele deve estar associado à matéria. A
matéria é o instrumento que o espírito usa para a evolução.1
Esta
evolução é feita em dois sentidos: descendente e ascendente.
O
espírito mergulha na matéria
evolução descendente.
O
espírito emerge da matéria
evolução ascendente.
Segundo
os espíritos, na questão 621 de O Livro dos Espíritos, a Lei de
Deus está gravada na consciência, Lei que foi esquecida. Segundo
entendemos este esquecimento se deu na evolução descendente. Na
ascendente buscamos lembrar o que foi esquecido. “quis Deus que
ela lhes fosse lembrada.”2.
Na
descida as qualidades são potencializadas e na subida evolutiva,
dinamizadas.
O
berço da evolução é o campo físico. Ela acontece nos dois
planos, físico e espiritual, entretanto, em nosso estágio atual não
há como prescindir da matéria para realizarmos a evolução.
Já
no primeiro versículo deste capítulo do Gênesis temos esta
realidade:
Céus
e terra representando:
- Matéria e espírito
- Informação e transformação
- Intelecto e moral
- Periferia e aprofundamento.Podemos entender que Céus e terra representam todas as coisas, ou seja, tudo foi criado por Deus.
Notamos
que segundo a ordem do relato bíblico temos céus e terra,
sugerindo que os céus, o plano do espírito puro, veio
antes, a terra como expressão do que é material só acontece
depois. Em seu primeiro momento – se é que podemos assim dizer –
Deus que é Espírito, cria espiritualmente, fora das dimensões
tempo e espaço. Tempo e espaço só surgem com a formação do
Universo material.
Através
da evolução descendente surge a matéria, o espírito que neste
momento perde a sua consciência irá readquiri-la pelo processo da
evolução ascendente.
Temos
aqui o símbolo da “queda do espírito”. Antes, no paraíso de
Deus, ele vive em espírito, depois ele cai na matéria e precisa,
pelo esforço de recomposição – no suor do teu rosto comerás
o teu pão3
- a ele voltar. É o que as religiões denominaram “salvação”,
ou “redenção”.
Só
se salva ou se redime o que se perdeu.
É
neste sentido que devemos entender a palavra “religião”, no de
religar; religar a criatura ao Criador. Aqui temos o que é
verdadeiramente religião, não confundirmos com as organizações
religiosas criadas pelos homens.
A
história da Bíblia é esta, a de salvação do Espírito. Ela
inicia com a criação, depois temos a queda, na sequência as
incessantes lutas do homem buscando Deus, e no final – no
Apocalipse – a Jerusalém Libertada, que é justamente o símbolo
da salvação do Espírito, da volta para Casa, para a Unidade
Divina.
Em
Adão temos o símbolo do rompimento da a Aliança feita com Deus,
através de Jesus temos a retomada da Aliança, por isso Paulo com a
autoridade que lhe era peculiar pôde dizer ser Jesus o último
Adão.4
No
princípio criou Deus os céus e a terra.
No
Princípio; a expressão no princípio, em hebraico,
beréshit, nos fala de uma origem; alguns analistas têm visto
este princípio desvinculado de qualquer idéia de tempo, seria assim
atemporal. Deus é eterno e incriado, deste modo a criação seria
eterna, algo que jamais começou. Todavia podemos também entender
este princípio como um momento escolhido no tempo para iniciar um
relato. Dizemos assim, pois desta forma fica mais fácil a
compreensão de algo que transcende o nosso entendimento: a origem de
tudo.
Assim,
temos o princípio de acordo com o estado evolutivo individual
de cada um. Para uns a vida começa com o nascimento físico, outros
aceitam com facilidade a preexistência da alma. Entre estes últimos
há os que creem que a vida inteligente só acontece a partir do
reino animal ou hominal, entretanto há aqueles que já veem o
princípio inteligente no mineral, ou até mesmo antes deste.
De
que princípio fala o texto, da origem do universo material? Das
dimensões tempo e espaço? Ou simplesmente da fundação de nosso
Orbe? Como dissemos, cabe a cada um analisar de acordo com a sua
possibilidade evolutiva.
Os
rabinos observam que a primeira letra do alfabeto hebraico é o
“aleph”. Esta simbolizaria Deus em sua Unidade; “beth”, a
segunda, a inicial de beréshit representaria assim, a
dualidade. Portanto, beréshit (princípio), seria a entrada
do universo na dualidade, a criação do mundo corpóreo.
Criou;
ou criava segundo algumas traduções. Em hebraico “bara”,
verbo que só é utilizado tendo Deus por sujeito. Representa
assim ação criadora divina que é diferente da ação produtora do
Espírito. Deus cria a partir do que não existe, o Espírito só
produz a partir do que já tem existência.
Deus;
no texto original temos o nome Elohîms para designar
o Deus que hoje conhecemos. Deus é único, singular, absoluto; porém
Elohîms é plural. Segundo Chouraqui5,
nas línguas semíticas, Elohîms é o termo genérico para
designar o conjunto de divindades. Seriam assim, dentro da
terminologia espírita, os Espíritos Puros, aqueles que segundo
André Luiz realizam uma Co-Criação em plano maior. Relata-nos este
autor espiritual:
Nessa
substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam
as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão
indescritível…
(…)Essas
Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em
habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou
obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis
predeterminadas…6
Emmanuel
também nos esclarece a respeito:
Rezam
as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os
fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos
Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se
conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades
planetárias.7
Estas
anotações estão em pleno acordo com o que nos ensinam os Espíritos
na Codificação; em O Livro dos Espíritos encontramos:
Deus
não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes
dedicados em todos os graus da escala dos mundos.8
Portanto,
quem constrói e formam os mundos físicos e materiais são os
Espíritos destacados pelo Senhor Supremo para esta função, e
Elohîms, Cristo, Logos, na verdade são nomes que expressam esses
“agentes dedicados” que servem a Deus desde o princípio dos
tempos.
Assim
podemos compreender melhor estas primeiras informações do Gênesis
como sendo a expressão de formação de mundos materiais, o nosso
orbe por exemplo. Já existe “tempo”, deste modo, é correto
dizer no princípio. Deus é aqui a representação dos
Espíritos Puros, Co-Criadores em plano maior, Elohîms.
Os
céus e a terra; céus, no plural representa o
infinito. Terra no singular, o finito.
Quando
os cientistas estudam uma provável data para o surgimento do
Universo (aproximadamente uns 15 bilhões de anos), falam do Universo
físico. O Big Bang foi uma grande explosão a partir da qual surge o
Universo, porém, é preciso perceber que alguma coisa explodiu, o
quê? Não sabemos, porém era algo que já existia. A cada percepção
de princípio da ciência, descobriremos que algo já existia antes,
pois a ciência trata do relativo enquanto Deus é o Absoluto.
Pode-se descobrir Deus através da ciência, porém, sua intimidade
transcendental não é objeto de pesquisa desta.
Nossa
visão de infinito é sempre relativa. Existem teorias sobre o
infinito, mas não sabemos o que é.
Entramos
no terreno da fé. Fé pode significar algo que não conhecemos mas
que deduzimos.
Ora,
a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das
coisas que se não vêem.9
(…)
porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos10
Portanto,
Deus Cria, nós co-criamos.
Céus
representa também a primeira criação. Mesmo nós que co-criamos
iniciamos qualquer ação produtiva nos céus, isto é, no campo
mental.
A
terra representa assim o campo operacional; é onde executamos
os projetos elaborados nos momentos de idealizações.
E
a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo;
e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E
a terra era sem forma e vazia; este é o modo em que o
redator bíblico se manifestou, para ele a terra era informe, isto é,
sem forma.
Quando
alguém compra um terreno e planeja ali a construção de sua casa,
em seu campo mental a casa já está pronta, ele consegue visualizar
tudo, e até transitar mentalmente entre os cômodos. Ao chegar um
desconhecido ele tenta mostrar a casa para este que não consegue
visualizar nada, para este o terreno está vazio e sem forma.
Para
o Deus o tempo não passa, o tempo é; Ele é anterior ao tempo. No
Campo Mental do Criador tudo sempre existiu e de forma organizada.
Nada
é vazio. “O que te parece vazio está ocupado por matéria que
te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”11
O
“gérmen primitivo”12
de tudo sempre existiu em estado latente,eles ficam aguardando o
momento propício para se desenvolverem13.
Para
o homem existe o antes e o depois ele tem de construir e
construir-se, o princípio é vazio e sem forma cabe a cada um dar a
sua forma preenchendo o vazio. Esta é a oportunidade de trabalho, e
a partir daí, de sua própria edificação.
…e
havia trevas sobre a face do abismo; a luz irradia pelo
infinito. Deus é luz, Deus é amor; deste modo a luz é anterior a
tudo. Porém em nosso universo material e devido aos nossos sentidos
adaptados a este universo a luz expressa-se nas trevas. É preciso a
treva para que ela reflita. A luz precisa de seu oposto para
manifestar-se. Do mesmo modo é a relação entre bem e mal.
Na
criação de nosso orbe a treva sobre a face do abismo
expressa o caos inicial quando os elementos ainda estavam em
confusão.14
Pouco a pouco cada coisa tomou o seu lugar.
Na
intimidade do Espírito se dá do mesmo modo, antes da revelação
crística em nós reina as trevas, após a absorção da Luz, que
representa o entendimento da Revelação, apaga-se a noite do
desequilíbrio que gera a desarmonia.
…havia
trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se
movia sobre a face das águas.
Passam-se
milhares de anos… desde a terra sem forma e vazia [o
princípio de formação planetária , momento em que os técnicos
espirituais sob a coordenação do governador planetário iniciam a
construção do orbe físico], até o princípio da vida orgânica
com o surgimento do protoplasma.
OS
PRIMEIROS HABITANTES DA TERRA
Dizíamos
que uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe terreno em
seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa, era o
celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião de
todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem
forma definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a
condensação da massa dava origem ao surgimento do núcleo,
iniciando-se as primeiras manifestações dos seres vivos.
Os
primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células
albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares,
isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura
tépida dos oceanos.
Com
o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se movem ao
longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao
entretenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía
ainda em proporções de manter a existência animal, antes das
grandes vegetações; esses seres rudimentares somente revelam um
sentido - o do tato, que deu origem a todos os outros, em função de
aperfeiçoamento dos organismos superiores.15
Este
momento representa a reunião dos elementos que refletem o pensamento
de Deus no plano aplicativo (dinâmico), e as unidades psíquicas que
já se ajustam ao desenvolvimento natural do orbe neste estágio em
que se encontra a evolução.
Os
espíritos superiores estão presentes porque há trabalho.
O
campo dinâmico do psiquismo desde o psiquismo do homem até uma
bactéria estão amplamente conjugados.
Nosso
próprio organismo é um ótimo exemplo, existem nele unidades
psíquicas que iniciam no processo evolutivo, tudo sob a orientação
do Espírito já em fase superior de evolução.
O
espírito de Deus se movia é a representação do plano
operacional.
Se
moviam (dualidade), saindo de um lugar e indo para outro. O plano
da caridade através do trabalho é dual.
Face
das águas; são os elementos receptores do espírito de Deus.
Importância do campo mental na estruturação das realizações, do
preparo da “face das águas” para que o espírito de Deus produza
algo positivo.
Face
do abismo; tipos de elementos que ficam estagnados, como se fosse
a unidade psíquica vinculada ao mineral.
Face
das águas – movimento dinâmico.
Abismo
–profundidade que acolhe os elementos embrionários. (germe)
Temos
no abismo dois tipos de elementos:
- Em evolução normal.
- Em queda das faixas superiores.
- O erro, ou o pecado dentro da concepção das religiões, é o mesmo que a queda das áreas superiores do psiquismo para as profundidades do abismo, da consciência para a inconsciência.
1
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 22, 50ª ed. Rio de
Janeiro, FEB, 1980
2
Kardec, 1980, Questão 621. a)
3
Gênesis, 3: 19
4
Cf. 1 Coríntios, 15: 45
5
CHOURAQUI, 1995, pág.31
6
XAVIER Francisco C./ Waldo Viera / André Luiz
(Espírito) Evolução em Dois Mundos, Cap. 1 1ª Parte, 13ª Ed.
Rio de janeiro, FEB, 1993,
7
XAVIER, Francisco C. / Emmanuel. A Caminho da Luz, 10a
ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980.
8
KARDEC, 1980, Questão 536, letra b
9
Hebreus, 11: 1
10
1 Coríntios, 13: 9
11
KARDEC, 1980,questão 36
12
Idem, Ibidem, questão 46
13
Id., ib., questão 44
14
Id.,ib., questão 43
15
(XAVIER F. C. / Emmanuel (Espírito), 1980),
cap. II
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